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terça-feira, 28 de setembro de 2010

o velho no jardim...

Estava sentado num banco de jardim...
Passei por ele e reparei no seu olhar perdido, imóvel e onocente. Talvez um olhar de saudade, de distância e esquecimento. Quem passava, nem reparava na sua presença, era como se fosse um adereço de jardim, já nem ligavam.
Mas houve algo naquele homem que me chamou à atenção. Sem conseguir, à primeira vista, analisar o que seria, parei e fiquei a contemplá-lo.
Permaneceu imóvel durante longos minutos e ouviu-o murmurar:
- Conheço bem esse olhar...
Olhei para os lados e ele continuava com o olhar fixo e vago...
- Sim, estou a falar contigo! Isto se me deixares tratar-te desta maneira!
Senti o sangue subir-me à cabeça e corei.
- Olhar de pena... Não tenhas pena!
Fixou os olhos em mim e disse-me:
- Senta-te aqui!
Não consegui hesitar e como que fosse um robot sentei-me ao seu lado.
- Há anos que passo os meus dias sentado neste banco. Gosto da natureza, de ouvir os passáros , de sentir o cheiro das folhas. Quem por aqui passa ou me olha com pena ou me ignora... Pensam: "Olha! É mais um..."! Mas já me habituei, eu represento a solidão, sou um ícone e sou mais um que se sente em sintonia com a natureza! É isso! Sou mais um esquecido, um homem rejeitado pela sociedade... Mas já me habituei, acabamos todos por passar pelo mesmo, a nossa presença passa despercebida e caimos no esquecimento. Ignoram-nos porque sabem que há-de chegar a vez deles, olham-nos com pena porque nos assumem como inválidos! É esta a nossa sociedade... A velhice é o selo para a rejeição, somos colocados na prateleira até chegar o dia em que partimos...
O meu coração disparou, a minha vontade era abraçar aquele homem. Continuava de olhos fixos nele, a realidade estava bem à minha frente. Naquele momento percebi... Um dia também eu vou ser assim!

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